domingo, 16 de junho de 2019

Pesquisa: o treinamento corporal no processo do espetáculo Macunaíma.

TPCC: O Corpo e a Antropofagia Macunaímica.


1. O SURGIMENTO DO ESPETÁCULO
No ano de 2015 a Companhia Semente de teatro participou do Prêmio Sesc de Teatro Candango com o espetáculo Miguilim Inacabado, vencendo o prêmio de melhor figurino. Figurino esse que, segundo o diretor Valdeci Moreira de Souza, foi comprado em um brechó, enquanto outros aspectos da peça foram desconsiderados e não valorizados na premiação. Neste dia o mesmo, durante o prêmio disse ao seu amigo e também diretor do espetáculo, Ricardo César, que no ano seguinte iniciaria a montagem da obra literária Macunaíma, de Mário de Andrade. “Você está louco!” foi o que ele e os demais integrantes da Companhia disseram à Valdeci, porém menos de dois anos depois, a montagem aconteceria.
Com isso no ano de 2016 se inicia mais uma das tradicionais oficinas da Companhia e Espaço Semente, oficina essa para, na e com a comunidade do Gama e de outras RA’S do DF, tendo como característica o processo colaborativo pelo qual se inicia a criação e concepção de um novo espetáculo, e dessa vez a pesquisa se volta para a obra Macunaíma. A partir da leitura e profunda analise do livro, de provocações da direção de Valdeci e Ricardo, e dos participantes da oficina, atores e não atores, e principalmente através de muita pesquisa relacionada ao modernismo, a antropofagia, ao autor Mário de Andrade e a cultura brasileira , o espetáculo foi nascendo.
2. A ANTROPOFAGIA E A PREPARAÇÃO DXS INTÉRPRETES
O processado que teve no ano de 2016 seu início contava como elenco pessoas iniciantes no teatro que por sua maioria nunca tiveram pisado em um palco para fazer uma apresentação dramática.
As oficinas eram ministradas inicialmente aos sábados pela manhã. Conforme o trabalho foi se desenvolvendo, pessoas saíram do processo, outras entraram, até que foi possível ter uma definição prática com que intérpretes iria-se trabalhar, então os ensaios começaram a ser às quintas e sábados no turno da noite. Na etapa final, entretanto, os ensaios eram feitos todos os dias da semana à noite, e sábados e domingos pela manhã.
Valdeci diz que foi essencial que xs intérpretes conhecessem a obra de forma profunda e estivessem imersos no universo mágico que Mário de Andrade propõe: uma realidade mitológica repleta de lendas e referências ancestrais dos nossos povos indígenas e africanos que contrasta com a herança urbana, iluminista e capitalista vinda da Europa. Foram realizados diversos seminários sobre temas transversais a Macunaíma para aumentar e se fazer corpo nos atores em alusão a esse universo simbólico. Os temas do seminário foram:
Vida e Obra de Mário de Andrade.
Antropofagia.
Tropicalismo.
Movimento mangue beat.
O Povo Brasileiro de Darcy Ribeiro.
Raízes do Brasil, de Sérgio Buarque de Holanda.
Também foi necessário que xs intérpretes soubessem o porquê de se estar montando especificamente Macunaíma, isto é, uma justificativa pessoal, grupal e geográfica de saber porque o Espaço Semente tinha escolhido aquela obra mediante o contexto social e político que estávamos vivendo.
Na oficina eram utilizados diversos exercícios e jogos teatrais para estímulo dos alunxs-interpretes, principalmente, o estímulo físico para disponibilidade e presença cênica, tirando-os da zona de conforto e também desenvolvendo suas habilidades que seriam necessárias para continuar no processo e por consequência que utilizariam na apresentação do Macunaíma. Dentre tais exercícios e possível citar:
Zip Zap.
Mata Mosquito.
Exaustão.
Resistência física.
Exercícios de confiança.
Exercícios de mimese de animais.
Exercícios de ocupação espacial.
Exercícios de contato-improvisação.
Os exercícios propostos e outros foram utilizados, tendo como um dos enfoques, a desconstrução dos seus corpos-cotidianos para que esses corpos tornam-se extra-cotidianos, assim obtendo uma energia, uma pré-expressividade e expressividade além da normalidade presente na sociedade. Para construção do espetáculo tinha-se a “anormalidade”, o  “assustador” e o “feio” com o propósito de soltar o corpo dxs intérpretes e conceder a cada um a liberdade de testar provocações cênicas sem a necessidade de serem visualmente agradáveis.
Outro ponto importante é a busca corpórea, desses corpos dentro de tais manifestações, da cultura e da expressão dos originários do território brasileiro e que permearam durante todo o processo de espetáculo que foi repleto da musicalidade e corporiedade africanas e indígenas com seus rituais.

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